O aumento da Selic pelo Banco Central, e a indicação de um novo aumento em 2025, foi caracterizado como um “choque de juros”. O mercado se mostrava reticente sobre a credibilidade da autoridade monetária na estratégia de conter a inflação.
Os juros básicos no patamar previsto até março (de 14,5%) são acima da taxa mais alta (14,25%) na crise política de 2015 e 2016, cujo epílogo foi o impeachment de Dilma Rousseff.
O dólar teve uma forte queda nesta quinta-feira (12), com investidores já repercutindo a nova alta de juros. O estado de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e dados internacionais também ficam no radar.
Em contrapartida, o aumento dos juros teve um impacto negativo no setor produtivo. Várias entidades representativas dos empresários têm manifestado preocupação com os efeitos adversos dessa política na economia real.
A Decisão do Copom sobre a Selic
Na quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu aumentar a taxa Selic, a taxa básica da economia, de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano. A decisão do aumento foi unânime e representa a maior alta desde o início de 2022 e indica também possíveis dois novos aumentos para o início de 2025.
O objetivo é conter a escalada das projeções de inflação, que avançaram fortemente nas últimas semanas por conta de ruídos sobre o pacote de gastos, que refletiu na proposta de aumento da faixa de isenção do IR. Além disso, há a expectativa de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e um nível forte de atividade.
Essa foi a última reunião de Roberto Campos Neto sob o comando do Banco Central. Em janeiro de 2025, o cargo será ocupado por Gabriel Galípolo – indicado da confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Impacto no Setor Produtivo
O forte aumento dos juros e a sinalização de novas altas do mesmo tamanho no começo do próximo ano preocupam o setor produtivo.
“A decisão contraria outros sinais positivos da economia brasileira, como o crescimento na geração de empregos, a elevação da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e o recente resultado do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que caiu para 0,83% na primeira prévia de dezembro, após subir 0,99% em novembro,” afirmou Décio Lima, do Sebrae, ao G1.
As Consequências na Economia
O aumento da taxa de juros Selic no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Algumas delas, são:
- Juros bancários: a tendência é que a alta da Selic influencie nas taxas cobradas pelos bancos. Em outubro, a taxa cobrada para operações com pessoas físicas e jurídicas somou 40,2% ao ano.
- Piora das contas públicas: Com o aumento da taxa é prejudicada também as contas públicas, por aumentarem as despesas com juros da dívida pública. Em doze meses, até outubro de 2024, a despesa com juros somou R$869 bilhões (7,57% do PIB). Com isso, o endividamento avançou para 78,6% do PIB, patamar alto para países emergentes;
- Impacto nos investimentos: investimentos como renda fixa, Tesouro Direto e Debêntures, por conta de terem menor rendimento, com o passar do tempo, do que seria registrado como juros baixos. Esse cenário de juros elevados da Selic enfraquece o mercado de investimentos, pois investidores buscam alternativas mais seguras e rentáveis, como os títulos públicos, em detrimento de investimentos produtivos.
O comportamento do consumidor fica mais contido relacionado ao consumo, até por conta da dificuldade de investir, o que impacta negativamente o PIB (Produto Interno Bruto), emprego e renda.
As altas taxas de juros Selic não só aumentam o custo do crédito, dificultando o financiamento de novos projetos e a expansão das empresas, como também desestimulam o consumo, já que os consumidores tendem a gastar menos quando o crédito é mais caro.
Além disso, há um impacto no crescimento econômico a longo prazo, uma vez que a inovação e o desenvolvimento empresarial são prejudicados pela falta de recursos financeiros acessíveis.
Imagem destacada/Reprodução/IPEA/Simon Kadula/Unsplash