Galípolo alerta que famílias e empresas enfrentarão dificuldades com a inflação acima da meta e juros elevados, enquanto o Banco Central monitora os efeitos internos e externos.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que tanto famílias quanto empresas enfrentarão um período econômico mais difícil, pois a inflação deve continuar acima da meta estabelecida. Atualmente, essa meta é de 3%, com uma margem de tolerância que chega a 4,5%.
Segundo Galípolo, a inflação elevada decorre de fatores passados, como uma oscilação na economia e políticas de estímulo à renda que impulsionaram o consumo, gerando pressões inflacionárias.
“Empresas e famílias devem passar por um momento desconfortável. A inflação seguirá acima da meta, refletindo acontecimentos anteriores, mas espera-se que a política monetária tenha efeito progressivo”, destacou.
Além disso, Galípolo afirmou que o Banco Central já definiu uma estratégia para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele ressaltou a importância de aguardar os efeitos das medidas restritivas adotadas pela instituição antes de tomar novas decisões.
“Temos uma rota bem estruturada para o próximo encontro. Precisamos de tempo para avaliar a reação dos dados e distinguir o que é relevante do que é apenas ruído”, explicou.
Na última reunião do Copom, a taxa básica de juros foi elevada para 13,25%, e o Banco Central já indicou a possibilidade de um novo aumento de um ponto percentual na Selic na reunião prevista para março.


Perspectivas para o futuro
Embora Galípolo não tenha detalhado quais serão os próximos passos após março, ele reafirmou que o Banco Central seguirá a trajetória delineada na ata do Copom. Segundo ele, a inflação acima da meta e a desaceleração econômica no curto prazo exigem mais cuidado ao considerar uma possível redução dos juros.
Ele também enfatizou que a autoridade monetária dispõe de ferramentas para manter a Selic em um patamar restritivo e seguirá monitorando a situação antes de qualquer outro aumento que possa desestabilizar ainda mais a economia.
“Precisamos de tempo para avaliar como o mercado reagirá e diferenciar sinais reais de simples oscilações”, disse.
O presidente do Banco Central ressaltou ainda que, embora o objetivo da instituição não seja controlar a volatilidade do mercado, suas ações não devem amplificar essas oscilações.
“É normal que o mercado reaja. Ele precisa se movimentar para não ser levado de um lado para outro sem controle”, explicou.
Galípolo também mencionou que, caso o Banco Central perca a clareza sobre seu próprio posicionamento e suas ações, pode-se causar uma maior volatilidade do mercado. Por isso, reforçou a necessidade de análises mais criteriosas para as próximas reuniões, antes de mudanças bruscas na política monetária.
Ele revelou ainda que foi questionado sobre a decisão do Banco Central, em dezembro, de elevar a Selic em 1 ponto percentual e indicar mais duas altas do mesmo tamanho, em vez de um único aumento de 3 pontos percentuais. Na sua visão, as decisões precisam levar em conta o dinamismo da economia e a influência de fatores internos e externos.

Impacto do cenário internacional
A nova presidência americana com Donald Trump ainda gera incertezas no mercado. O republicano adota uma postura mais protecionista, impondo tarifas sobre produtos importados.
Na segunda-feira (10), o governo norte-americano anunciou a aplicação de impostos sobre aço e alumínio, e isso impacta o Brasil diretamente. “Curiosamente, há quem diga que, justamente por o Brasil não ter se ajustado completamente às cadeias globais de produção, ele pode sofrer um impacto menor com essas novas tarifas”, comentou Galípolo.
Além disso, ele apontou que algumas tensões externas estão se dissipando, apesar das incertezas geopolíticas.
Galípolo destacou que, desde 2008, sucessivas crises econômicas vêm pressionando as taxas de juros de longo prazo, o que afeta diretamente países emergentes como o Brasil.
Imagem destacada: Reprodução/Washington Costa/ MF